13 de junho de 2012

Diário - 33º Registro...Um ano

Um ano...desde que tudo isso começou...

Ontem não fiquei muito à vontade para escrever sobre isso mas tenho que desabafar.
Todo dia eu penso em como minha família deve estar,se estão vivos,e onde estão...à uns tempos atrás eu tinha quase certeza de que todos eles estavam mortos,mas eu estou vivo...por quê eles não podem estar?

Às vezes também me sinto culpado pela morte de Matheus,Cláudia e da Beatriz...se eu não tivesse sido salvo por eles,poderiam estar vivos até hoje,e não morrido daquela forma horrível...

Este mundo está impiedoso...

Em um ano perdi minha família...
Consegui várias cicatrizes...
Vi outra família ser destruída brutalmente...eu vi muitas pessoas morrerem...
Vi a situação caótica e decadente em que a Área Segura estava...

Tudo de ruim que se pode presenciar em uma vida inteira, eu presenciei em um ano...

Minha mente já se adaptou,e nem escuto direito os gemidos dos infectados,o cheiro de sangue e podridão está bem mais fraco...

Ontem de manhã,o dia estava com muita neblina,e foi o ambiente perfeito para eliminarmos os infectados na rua,então pegamos algumas facas e o machadinho,mas sem nenhuma arma de fogo.

Coloquei uma jaqueta verde-folha bem grossa que achei há algum tempo,e os outros do grupo vestiram o que puderam achar na casa.

Do portão,vimos que o infectado mais próximo estava à uns 10 metros de distância,e o Eduardo foi o primeiro a ir para cima dele,com o machadinho na mão.

Antes de qualquer reação,ele acertou o primeiro golpe horizontalmente, na altura do olho esquerdo,e a lâmina do machadinho cravou-se na órbita ocular do infectado com um som esquisito,enquanto ele lutava para ficar de pé,e depois,caiu no chão.

Fomos derrubando um por um,e antes da neblina sumir,já havíamos acabado...

Até agora,não apareceu mais nenhum infectado,e nosso próximo passo é conseguir gasolina para o Civic.

Eu estava pensando em ir para a Área Segura,já comentei isso com o grupo,e eles estão cogitando essa possibilidade...

11 de junho de 2012

Diário - 32º Registro...

Hoje de manhã comi salsicha enlatada com os três...e eles contaram a história deles.

Eles faziam parte de um grupo maior,11 pessoas, e quando tudo isso começou,decidiram ir para a área segura, mas o comboio no qual eles estavam foi atacado,e na confusão, conseguiram fugir...disseram que passavam algumas semanas em um lugar até o estoque de comida acabar, e então iam para outros.
Nessas mudanças,muitos não escapavam dos infectados,e assim só sobraram os três.
Foram parar na delegacia quando estavam buscando algumas armas e acabaram encurralados.

Pelo menos essa busca rendeu alguma coisa,já que eles conseguiram uma escopeta calibre 12,e 3 revólveres com munição o suficiente para atrasar um ataque dos infectados.

Pela troca de olhares,percebi que eles se perguntavam como um moleque estava vivo e sozinho nisso tudo,então contei minha história e mostrei esse diário, e contei que amanhã,vai completar um ano desde minhas primeiras palavras aqui...

Assim como eu,eles estão vivos até hoje por muita sorte...e um pouquinho de azar.

Por enquanto,somando todos os alimentos,não vamos precisar buscar comida por alguns dias,mas estamos planejando de limpar a rua nessa semana,e também conseguir combustível para o Civic,que ficou à algumas quadras daqui.

À tarde, eles um tomaram banho de caneca,e colocaram roupas dos antigos moradores da casa...disseram que não tomavam banho havia semanas...mas estou começando à ficar preocupado,já que a caixa d'água já está com o nível abaixo da metade...já discuti a possibilidade de pegar água da chuva,já que está chovendo bastante nos últimos dias,mas tenho medo dela estar contaminada...fora isso,o jeito é buscar garrafões de água pela região,ou pegar das caixas de outras casas...

Estava pensando como estaria a Área Segura da Avenida Paulista...creio que já deve ter caído,mas espero que isso não tenha acontecido.

Agora tem aproximadamente 15 infectados na rua,mas estão todos espalhados...espero que essa quantidade diminua até precisarmos sair daqui...

Diário - 31º Registro...

Acordei bem cedo hoje...peguei o machadinho,3 facas e a pistola e fui em direção à delegacia.
Chegando na frente da delegacia,vi que os infectados ainda estavam lá, e fiquei pensando como eu poderia tirar aquelas pessoas de lá.
Eu estava à uns 50 metros de distância quando decidi buzinar para chamar atenção de quem estivesse lá dentro.

Apertei a buzina.
Todos os infectados olharam em minha direção.
A impressão foi de que aquilo foi ouvido a quilômetros de distância...
Os primeiros começaram à correr pra cima de mim e eu comecei a me desesperar.
Olhei atentamente para a janela onde vi a moça ontem e minha visão ficou embaçada.
Passei a mão nos olhos e enxuguei as lágrimas.
Naquele momento tive a certeza de que tinha cometido um erro grave quando a moça apareceu.

Coloquei a cabeça para fora do teto solar e comecei a apontar para o lado de onde vim, e então voltei para o volante.
O primeiro infectado acertou o lado direito do carro com uma força assustadora, e então arranquei com o Civic.
Continuei andando em linha reta até que toda aquela multidão se afastasse da delegacia, e então virei a esquina.
Cinco segundos depois escutei alguns tiros...então reduzi a velocidade para a multidão não me perder de vista.
Quando achei que os infectados já estavam distantes da delegacia,completei a volta no quarteirão e voltei para a rua da delegacia, indo para a direção que apontei.

Vi o grupo correndo de 2 infectados...então joguei o carro em cima dos dois e esperei o grupo entrar no carro.
Quando entraram, arranquei com o carro.
Percebi a expressão dos três...de surpresa,ou confusão...
Acontece que não fiz isso por eles,e sim, por mim...tudo que eu queria era ter alguém com quem conviver,já que passei quase 2 meses sem ao menos falar uma frase.

Com a voz trêmula,eu me apresentei.
A moça tem 21 anos e se chama Larissa.
Um dos rapazes se chama Tiago e tem 23 anos.
O outro é o Eduardo e tem 26 anos.

Faltando uns 3 quarteirões para chegarmos na casa,o carro parou.
Tentei ligar novamente...nada.
Então olhei para o painel.

-Droga...acabou o combustível,a gente tem que ir a pé...é perto daqui!

Eles só concordaram,então peguei minha mochila e começamos à correr.

Encontramos poucos infectados pelo caminho mas a região ficou cheia por causa dos tiros.
Quando chegamos na casa, olhei para ver se não tinha nenhum infectado nos vendo,então entramos.

Agora,têm alguns infectados na rua,e o sofá,onde o Eduardo está deitado agora está bloqueando a porta.

Os três estavam bem exaustos e estão dormindo neste momento...nem posso imaginar pelo que eles passaram...
A Larissa e o Tiago estão na cama de casal,e eu aqui no quarto.

Estou ansioso para fazer várias perguntas para eles,e acho que nessa noite vai ser meio difícil eu pegar no sono...

9 de junho de 2012

Diário - 30º Registro...


Pela primeira vez em dois meses tive medo de perder a vida...

Hoje fui investigar o que causou a coluna de fumaça e os tiros.
Tive que dirigir por aproximadamente 3Km até que cheguei perto de uma delegacia,o 30º DP,que tinha as portas fechadas, mas o portão estava aberto, e o pátio,cheio de infectados.

Descobri que a fumaça vinha de um carro que tinha sido queimado,mas com a estrutura sem nenhum amassado, então, deduzi que ele foi queimado justamente para chamar a atenção.
Quando eu já estava pensando em ir embora,vi em uma janela do 2º andar da delegacia uma mulher acenando, e então, mais dois rapazes se juntaram à ela.
Do que pude ver na hora, percebi que estavam bem assustados.
Depois, alguns infectados começaram à vir minha direção e tive que ir embora.

Quando cheguei aqui,percebi que o combustível do carro está quase acabando mas não posso simplesmente ignorar o fato de ter pessoas a poucos quilômetros daqui.

Tenho de fazer alguma coisa amanhã...que Deus me ajude...

8 de junho de 2012

Diário - 29º Registro...

É incrível como tudo pode ir para a merda em questão de horas...no mundo de hoje,uma vida não vale nada(a menos que essa vida seja a sua).
Fazem umas 7 ou 8 semanas que aconteceu,em meados de abril...parecia que tudo ficava pior a cada dia,mas, com exceção da falta de comida,era o lugar mais seguro em quilômetros...mesmo assim,tudo foi pro caralho.

Acho que a sensação de segurança baixou a guarda de todos nós.
Dois dias antes do que aconteceu,Matheus e eu saímos para buscar alimentos,e cometemos o maior erro.
Com as constantes saídas do prédio,muitos infectados se aglomeraram na região,e naquele caso,esquecer o portão destrancado foi imperdoável.
Quando voltamos,o pátio estava cheio de infectados.Fiquei sem reação na hora.
Matheus acelerou,atropelando três deles,e o vidro estilhaçou;Ele perdeu o controle do carro e bateu em outro.
Eu saí do carro e corri em direção à entrada do edifício,enquanto o Matheus fazia o mesmo,mas no meio do caminho,um homem com uma ferida enorme na maçã do rosto esbarrou em mim,e eu quase caí no chão,dando tempo suficiente pra ele conseguir agarrar meu braço esquerdo.
Ele batia os dentes furiosamente enquanto eu empurrava o queixo dele.Foi quando Matheus encostou a arma na têmpora dele e puxou o gatilho.
Eu fiquei surdo por um instante e só pude contemplar o corpo do infectado caindo,com um buraco do tamanho de uma mão fechada na lateral da cabeça.
Era só questão de tempo para todos os infectados da região estarem nos caçando.
Quando chegamos no apartamento,já começamos a montar uma barreira na porta,com os sofás,o rack,a geladeira,e tudo o que pudemos encontrar.
A Beatriz e a Cláudia nos ajudaram e depois,ficamos apenas esperando eles chegarem.Os malditos parecem sentir a presença de um humano,já que em dentro de 5 minutos,ouviu-se a primeira pancada na porta.
Em poucos minutos,tornou-se um som constante de pancadas e gritos.

Começou a escurecer, e a porta estava quase cedendo. Eu tinha certeza de que não sairia daquele apartamento vivo.
De repente,ouvimos o som seco de madeira quebrando.

-Vocês...se escondam rápido! - Matheus gritou,enquanto mirava para a porta.

Eu corri para o quarto do casal,mas não achei a chave e só fechei a porta e procurei um lugar em que eu pudesse ficar por um bom tempo,e entrei no guarda-roupas.
Fiquei encolhido enquanto tentava controlar minha respiração,que mais parecia um soluço.
Escutei o primeiro tiro.Ele haviam entrado.
Foram uns 11 ou 12 tiros seguidos,e depois,pararam.
Alguns segundos depois,mais barulho de pancadas.Pensei ser na porta do quarto em que eu estava,mas depois percebi que não era.
-Me deixa entrar! - Era ele...provavelmente tentando entrar onde a Cláudia e a Beatriz estavam.
Depois muita gritaria...e logo o silêncio,às vezes com algum gemido de um infectado.
Fiquei assim,encolhido no escuro por um dia inteiro,até que,depois que percebi que não havia mais sinais de algum infectado.

Me estiquei com esforço,e quando tentei ficar de pé,perdi as forças e caí.
As mais de 24 horas sem comer nem me esticar me deixaram no chão por alguns segundos...

Quando consegui levantar,saí do quarto e vi toda a merda que aconteceu.
Atravessei a sala de estar e lá estava o Matheus,caído e com as costas destroçadas,a porta entreaberta,e muito sangue no local; E então,fui olhar o quarto onde estavam Beatriz e Cláudia.

Vazio.
O quarto estava todo revirado,com manchas de sangue no chão...elas tinham sido infectadas.

Quando voltei à sala,dei conta do que havia acontecido.
Olhei para o Matheus,que estava caído,e vi que ele também havia sido infectado,e só não tinha levantado porque sua coluna estava destruída. E ele não emitia som algum,só batia os dentes; Estranhei no começo mas depois descobri que era por causa dos pulmões,despedaçados.
Fiquei imóvel por alguns segundos...tentando processar tudo aquilo.

Por mais uma vez,eu estava sozinho.Sozinho e ferrado.

E então eu tomei coragem,peguei minha mochila,coloquei toda a comida e duas garrafas de água nela,peguei a arma da mão do Matheus e saí do apartamento.

O prédio estava vazio,e o pátio tinha 3 infectados.
Então corri para o Civic ainda com as portas abertas e entrei. A chave estava no contato.
Por sorte, ele não tinha se danificado na batida,e consegui ligá-lo na 2ª tentativa.
Fiquei um pouco confuso no começo,mas pus em prática o que tinha aprendido com meu pai,antes de tudo isso.Engatei a marcha a ré, e saí para a rua, e então arranquei pela avenida.
Estava sem rumo, assustado.
O párabrisas estava estilhaçado,mas eu conseguia enxergar parcialmente.
E as ruas estavam relativamente vazias.
O que me ajudou a atravessar o bairro sem atrair muita atenção foi a velocidade do carro e o motor silencioso.
Depois de alguns minutos rodando pela região,parei numa rua com algumas casas e lojas pequenas,incluindo um mercadinho,e parei na frente de uma casa com um muro alto e o portão aberto,mas intacto.

A casa estava vazia e sem sinais de luta, tudo em ordem.
Decidi que aquela seria minha casa até as coisas melhorarem...estacionei o carro na frente do portão,dificultando a passagem de algum infectado,e então fechei o portão e entrei na casa.
Sentei no sofá,e fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido.

Em menos de 3 dias,tudo tinha dado errado.

Então uma olhada mais atenta na casa.Era uma casa simples,mas bem arrumada.
Tinha dois quartos,um de casal e outro,com uma cama de solteiro,onde eu dormi.
Desde então,estou explorando a região,que não tem muitos infectados...sobrevivo da comida que pego no mercadinho e da água da casa,da caixa d'água ainda cheia.

Encontrei também uma loja de ferragens,e consegui um machadinho,de uns 50cm,que juntei com a pistola e as facas da casa.
Eu ficaria aqui até a comida acabar,ou acontecer algo pior,mas já fazem 3 dias que escuto tiros e vejo uma coluna de fumaça se erguendo há uns 2 a 4 quilômetros daqui, vou investigar isto.
Se tiver alguma chance para encontrar outras pessoas,não posso perdê-la.

Hoje também olhei o relógio que Matheus tinha me dado,e vi que é dia 8 de junho,e faltam 4 dias para completar 1 ano desde meu primeiro registro sobre tudo isso.
Esse foi um dos motivos para escrever nesse caderno depois de mais de 7 meses.

Agora preciso dormir,porque de manhã,vou estar saindo daqui e descobrir o que está acontecendo.

28 de novembro de 2011

Diário - 28º Registro...

Depois de algumas semanas,os infectados começaram a sair do portão...talvez,perderam o interesse.
Então,eu e o Matheus saímos a primeira vez no dia 2 de novembro.A Cláudia abriu o portão,arrancamos no Honda Civic deles,e ela fechou o portão novamente.
Fomos para o supermercado mais próximo...um Pão de Açúcar à uns 4 Km de distância.
Ele estava todo fechado,e vazio.
A rua não tinha nenhum infectado;O Matheus estacionou ao lado do portão,e o pulamos.
-O carro já ta com o teto solar aberto.Na volta você fica em cima e joga tudo por ele.
-Tudo bem
Pegamos um carrinho,e quebramos um vidro na lateral da entrada do mercado.
Lá dentro,o cheiro de carniça e mofo estava impregnado.
Pegamos alguns enlatados e enchemos o carrinho.
Na saída,fiz o que havia sido combinado.
Depois que joguei tudo dentro do carro,fomos embora sem problemas.
Quando chegamos na rua do prédio,o Matheus buzinou,para chamar a atenção dos infectados no portão;Ele deu a volta no quarteirão,e quando voltou,a Cláudia já estava com o portão aberto.Entramos,e fechamos o portão,antes de chegar mais infectados.

Mas com o passar do tempo,as coisas foram ficando mais difíceis...tivemos que ir para outro mercado,para pegar mais comida que não estivesse estragada,tivemos que pegar combustível de outros carros do prédio e das ruas próximas,os infectados apareciam mais pelo bairro...

Na semana passada,pedi para o Matheus me levar até o helicóptero para conseguirmos algo útil.
O helicóptero estava à uns 3 quilômetros do prédio.
A rua tinha alguns infectados,e tivemos que ir rápido.
Quando me aproximei do helicóptero semi-virado,já pude sentir o cheiro de morte.
Lá dentro,o corpo em decomposição do soldado.
Procurei minha mochila,e achei.Ela estava pendurada num dos assentos.Eu a peguei,e observei o soldado...
Vi que ele tinha uma pistola e alguns pentes de munição.
Eu os peguei e pensei que poderia arrumar algo parecido com o piloto.
Mas quando me aproximei,vi que ele estava infectado,e só não tinha me atacado porque não conseguia se soltar do cinto.
Fomos embora.

Não sei se essa situação vai ficar ainda pior...não quero viver para sempre dentro de um apartamento.
Eu já aprendi a usar a arma,todos nós aprendemos.
Fico imaginando o que levou a Beatriz a ter se interessado por mim tão rápido...
Talvez porque ela não tinha contato com alguém da mesma idade há meses,ou por causa de hormônios à flor da pele.....ou simplesmente por falta de opção...só sei que ela se tornou alguém muito importante para mim...toda essa família.

A cada 3 ou 4 dias,eu e o Matheus saímos para buscar comida,e não sei se vou sobreviver para voltar.
Só espero que essa situação melhore...

20 de novembro de 2011

Diário - 27º Registro...

Caramba...não acredito que consegui recuperar esse caderno...
Aconteceu tanta coisa desde que eu escrevi as últimas palavras aqui...
Depois que nos trancamos no arquivo,passamos a noite lá,e quando saímos,apenas alguns infectados perceberam.
Os tiros começaram,e cada vez,vinham mais infectados.
No 4º andar,tudo foi por água abaixo...aquele lugar estava cheio de infectados...lotado.
Era impossível simplesmente abrir caminho aos tiros por ali.
Até aquele ponto,tudo estava sob controle,mas quando começamos a voltar,o desespero tomou conta de todos.
Ao som de gritos e tiros,o grupo foi aos poucos diminuindo,e quando cheguei ao 10º andar,olhei pra trás e não vi ninguém.
Parei um pouco para retomar o fôlego,e comecei a escutar grunhidos,vindos da entrada do 10º andar e se aproximava das escadas.
Eu comecei a subir correndo,tropeçando e chorando.
De repente o grunhido deu lugar à um grito gutural que com certeza tomou conta de todos os lances de escadas...eu olhei para trás e vi um vulto subindo à uma velocidade incrível...em um momento,coloquei a luz da minha lanterna nele,e vi um monstro.
Só podia ser ele.Era o Nilton.
Um dos seus braços estava bem maior que o normal e se arrastava no chão;Nas suas pontas,as unhas viraram garras.
Seu rosto estava desfigurado,na boca enorme,os dentes imensos me assustaram.
Naquele momento,eu teria morrido,se não fossem os soldados que tinham escapado...eles começaram à atirar nele.
Comecei a subir de novo,enquanto escutava os gritos dos soldados.
Olhei para trás de novo e trombei com um infectado...nós dois caímos no chão,e quando levantei,bati minha cabeça em um dos corrimãos com tudo.
Minha vista apagou por um momento,e fiquei completamente desorientado...mesmo assim continuei subindo,me apoiando na parede.
Quando passei pelo 12º andar,percebi que os tiros tinham parado.E aqueles grunhidos assustadores,não.
Comecei a chorar,e parei.
Fiquei parado,esperando algum soldado aparecer,e comecei a escutar o som de passos que aumentavam.
De repente apareceu o infectado com que me encontrei.
Não tive nenhuma reação...eu já tinha conhecimento de que iria morrer naquele momento...
Ele se aproximou,e estendeu os braços,gritando.
O lance de escadas se iluminou com um clarão,e o infectado teve sua cabeça estourada.
Quando ele caiu,vi um soldado atrás,apontando seu fuzil para minha direção,e o zumbido no meu ouvido foi diminuindo.
-Vai logo!Somos só nós dois...só mais um andar e chegamos no heliporto!
Começamos a subir e chegamos no heliporto;Quando abri a porta, a claridade do sol me cegou por um tempo.
Minha vista começou a se acostumar e pude ver o helicóptero.Minha salvação.
O piloto estava lá,com o helicóptero todo fechado...O soldado que estava comigo deu sinal para ele abrir.
Quando entramos,o helicóptero já começava à funcionar.
-Deu tudo errado...temos que sair daqui agora! - Disse o soldado
-E...e os outros?!
-Todos morreram,vamos logo!
O piloto ficou perplexo.
Vários infectados começaram à chegar ao heliporto.
De repente,surgia entre eles,o Nilton.Ele despedaçou os infectados que estavam em seu caminho e corria em direção à nós.
Começamos a subir,quando ele pulou no helicóptero,que se balançou todo.
Já tínhamos voado uns 5 minutos,passando na área do bairro de Tatuapé quando ele surgiu na parte da frente,e começou à quebrar o vidro.
O soldado atirou nele várias vezes,mas ele parecia não se abalar...e então ele enfiou suas garras no peito do piloto,que gritava desesperado.
O helicóptero começou a girar violentamente,e várias luzes no painel piscavam.
O Nilton se soltou do helicóptero,e nós começamos à cair.
Nos aproximamos do chão e tudo se apagou...

Acordei com muita dor,e vi que o soldado tinha morrido também.Tinha sido perfurado por uma barra de metal.
O helicóptero estava de ponta cabeça...eu me soltei do cinto e caí;Me arrastei para fora,e vi que estava em uma avenida.
Em meu braço,estava um corte feio.
Estava ferrado.
Todo machucado,sozinho,e sem saber onde estava...
Percebi que tinham alguns infectados à uns 100 metros de onde eu estava,e eles começaram a se aproximar.
Com certeza,a queda de um helicóptero chama a atenção...
Começaram a aparecer mais infectados,e eles corriam em minha direção.
Procurei minha mochila para fugir,e vi que ela não estava nas minhas costas e não tive tempo para procurar no helicóptero...
Corri,e comecei a me desesperar.Olhei para trás,e vi que surgiam cada vez mais infectados.
Corri por uns 5 minutos.
-Filhos da puta!Podem vir!!!Já tiraram minha família...podem vir...
Acho que a insanidade estava chegando até mim.
De repente,vi em um prédio que estava à um quarteirão,uma coisa se mexendo,rodando,na janela,no 2º ou 3º andar.
Fui para lá,e pude ver,era uma moça,rodando uma toalha.
Quando já estava chegando lá,pude escutar:
-A entrada é na outra rua!Vem!
E ela apontava para uma das travessas da avenida.
Quando virei a esquina,já pude ver um rapaz tirando uma corrente do portão.
Ele o abriu e eu entrei,me jogando no chão e gritando:
-Fecha isso pelo amor de Deus...não deixa eles me pegarem!!!
Ali era o estacionamento do prédio.
O homem acorrentou novamente o portão e então estendeu a mão para mim,me ajudando a levantar.
Entramos no prédio e subimos até o 2º andar,entrando num dos apartamentos.
-Ele está bem?!Ai meu Deus!Coloca ele aqui!!! - disse uma moça,provavelmente,a que estava com a toalha.
Eu me sentei no sofá,e naquele momento percebi meu estado.
Minha cabeça estava sangrando,talvez tinha me machucado na queda,assim como aconteceu com meu braço.
Minhas roupas rasgadas,e sujas de sangue e poeira.
Minha calça estava molhada...droga.Eu tinha me mijado e não percebi.
Meu rosto com uma mistura de sangue,suor e lágrimas.
Eu com certeza não parecia um glorioso sobrevivente de um filme,que portava metralhadoras e matava centenas de infectados por heroísmo.
Era alguém que sobreviveu até aquele ponto,simplesmente por sorte.Muita sorte.
Quando olhei para o casal,vi que eles me observavam com uma mistura de pena,e surpresa.
-Qual é seu nome? - Perguntou a moça
-André...
-Você estava naquele helicóptero que caiu agora?
-S...sim...deu tudo errado,e todos morreram e... - comecei a chorar quando percebi tudo que tinha acontecido.
A mulher se aproximou de mim e me abraçou.
-Calma...está tudo bem agora...você está seguro aqui...
-Obrigado por me salvarem...se não fosse por vocês,eu estaria morto agora...
-Vem...você precisa descansar,vai tomar um banho,e depois vem comer alguma coisa...
Ela saiu e eu observei o apartamento...eles viviam bem antes de tudo isso...eram da classe média.
Ela voltou,com uma toalha e algumas roupas.
-Essas roupas são do meu marido...podem ficar largas,mas não vão ficar curtas,pelo menos.E o chuveiro ainda funciona...é aquecido à gás.
Meu Deus...pelas experiências vividas nos últimos dias,aquilo parecia ser o paraíso.
Tomei um bom banho...não tinha aquilo à umas semanas...
Pude ouvir uma discussão entre o casal,e depois ouvi uma voz feminina,que não era da mulher.
Eu me vesti,e saí.
Todos olharam para mim,e eu vi uma garota,da minha idade.
Depois,Matheus fez curativos improvisados em mim.
Fomos comer,e nos conhecemos melhor.
A mulher,se chama Cláudia,e tem 33 anos.
O homem,Matheus,tem 36 anos.
A garota...Beatriz,15 anos...
Cláudia tem cabelos loiros e parece ser mais nova do que é,Matheus pareceu ser um homem não muito gentil nos primeiros dias,mas depois,se tornou um pai para mim.
E a Beatriz,é linda. Cabelos lisos e compridos na cor castanha,seus olhos,pretos.
Nos dois primeiros dias,ela evitou falar comigo,pensei que tinha algo contra mim,mas todos naquele apartamento pareceram ficar um pouco distantes de mim no começo.
Eu expliquei o que tinha passado até ali,e eles ficaram surpresos por eu estar vivo.
Depois,contaram que decidiram ficar em casa,ao invés de ir para as áreas seguras.E estavam vivos até ali porque pegaram a comida que tinha sido deixada nos outros apartamentos.
Depois de toda a conversa,ficamos todos em silêncio,enquanto eu terminava o segundo prato de arroz e ervilha e salsicha enlatada...
Quando percebi,todos me observavam,enquanto Cláudia tentava esconder um sorriso.
Limpei meu rosto,e fiquei com muita vergonha...estava comendo como um animal faminto...
Quando fomos dormir,me explicaram que não podiam confiar,me deixando dormir perto deles,pois eu não sabia aonde eu tinha me machucado.
Eu entendi,e fui dormir sozinho,em um dos quartos,e depois eles me trancaram.
-Boa noite...e desculpe por isso,vai ser só hoje.
-Boa noite,e obrigado,eu entendo isso...
Passei a noite pensando em tudo que tinha acontecido,e lembrei da minha família...
Gostaria de saber o que aconteceu com eles...
Depois fiquei pensando em como tinha chegado...fiquei com medo da Beatriz ter ficado sabendo que eu tinha  chegado chorando e mijado de medo...que droga...
Então eu dei uma risada mais por estar nervoso...
De repente,lembrei dos meus machucados,não lembrava de tudo aquilo,e fiquei preocupado.
Fiquei com medo de que tivesse ferido meu braço ou minha cabeça,quando me encontrei com um infectado nas escadas do hospital,ou eu tinha me ferido quando bati minha cabeça no corrimão,ou na queda do helicóptero.
De acordo com o governo nos primeiros dias,uma pessoa atacada apresentaria sinais de infecção dentro de 18 horas.
Se eu tivesse sido mordido naquele dia,acordaria querendo atacar aquela família.

Acordei com o sol no meu rosto,e me levantei.
Não era um deles...fiquei extremamente aliviado...
Bati na porta do quarto
-Gente!Eu não fui infectado!
Eu falei isso com uma alegria aparente na minha voz.Eu tinha ido dormir,já acreditando que estava infectado.
-Meu Deus...ele está bem! - escutei a Cláudia sussurrar
Abriram a porta e viram um grande sorriso no meu rosto.
No início do dia,ficaram apreensivo,mas depois,perceberam que não havia mais motivo para medo.
Para economizar alimentos,comemos uma vez por dia,e naquele dia,eu fiz as contas,e vi que faria 15 anos no dia 16,e era dia 10.
-Nós não podemos fazer uma festa,mas considere estar vivo como um presente... - disse Matheus
Fiquei pensando naquilo,e era a maior verdade...sobreviver 5 meses à tudo isso já é um presente...

No dia 13,Beatriz falou comigo pela primeira vez...
-É André,não é isso?
Apenas concordei,com a cabeça.
-Eu não acredito que você sobreviveu do jeito que contou...
-Vocês também estão vivos até agora...
-Mas nós nunca saímos do prédio depois que tudo começou,já você...foi mesmo para a área segura?
-Sim...e aposto que aqui é dez vezes melhor,agora é só um amontoado de gente com medo.Eles tem que racionar comida,senão ela acaba,e as pessoas que ficam doentes,morrem rápido...tem falta de remédios e equipamentos.Por isso eu fui até o hospital que eu disse.
-Nós quase fomos para lá...
-Você me viu chegando?
-Não...meu pai mandou eu entrar no quarto e me trancar,até eles saberem o que estava acontecendo...
Fiquei aliviado...ela não tinha visto meu estado quando cheguei...
-E...e a sua família?...
-...
Olhei para ela,e ela entendeu o que eu quis dizer...mesmo assim,decidi falar.
-Nós sobrevivemos nos primeiros dias,mas eu me separei deles,e nunca mais eu vi eles,já devem ter morrido...
Ficamos em silêncio por um tempo.
Eu decidi parar de lembrar do que tinha acontecido e tente deixar o clima mais leve.
-Bom...se sua mãe não tivesse rodado aquela toalha,talvez você teria me visto virar comida da janela do seu quarto...
Ela sorriu.
-Você vai mesmo fazer aniversário em três dias?
-Se hoje for dia 13,sim...
-Que droga...eu também fiz aniversário depois que tudo começou...dia 8 de julho...
-Não convidou ninguém pro seu aniversário de quinze anos?
-Pois é...ninguém apareceu...
Começamos à rir,e depois,ficamos em silêncio de novo...
Naquele momento,percebi que gostava daquela garota...
Nós começamos à nos beijar...
Ter encontrado aquela família foi a melhor coisa que me aconteceu.
-André, você quer vir almo... - a Cláudia saiu rapidamente do quarto
A Beatriz parou de me beijar e ficou constrangida...
Ela ficou desconcertada e saiu do quarto...
Eu fiquei com medo do pai dela,mas parecia que nada tinha acontecido,talvez a mãe dela nem tenha contado.
Almoçamos,e eu fiquei toda hora olhando para a Cláudia...até que ela percebeu,e sorriu para mim.
Beatriz percebeu meu alívio e eu sorri para ela...
Sem energia elétrica,passamos o dia conversando,e já me tornava mais amigo de Matheus.
Fui dormir pensando no que tinha ocorrido...
O helicóptero tinha caído justamente em um bairro que tinha sobreviventes,e corri dos infectados em direção à eles.
Eu ganhei na loteria.
No dia 15 eu saí do prédio,e fiquei no estacionamento.
Os infectados tinham se aglomerado no portão,mas alguns já tinham se dispersado.
Abrir aquilo novamente seria impossível por uns dias.
Dia 16...a primeira coisa em que pensei quando acordei foi minha família...comecei a chorar em silêncio,e quando parei,levantei.
Depois do primeiro dia em que cheguei,me deixaram dormir em um colchão na sala de estar,e a Beatriz voltou a dormir no quarto dela.
Vi que todos estavam dormindo e fui olhar pela janela.O dia estava ensolarado,e fazia calor.
Seria um dia perfeito,se não tivessem multidões ensanguentadas por toda a cidade.
Depois,todos foram acordando...
Foi um dia quase normal,com exceção do bolo de chocolate que fizeram para mim,à tarde.
Depois,Matheus me deu um relógio...
-Bom...sei que você não vai olhar sempre para ele,até porque não vai ter nenhum compromisso com o qual se preocupar...mas espero que goste...
Ele ficou lindo em meu braço...
-Ai caramba,não acredito...para que tudo isso?! Muito obrigado mesmo...
Tentei evitar o choro,sem sucesso.
Naquele momento, tive certeza de que aquela seria minha nova família...
À noite,arrumei meu colchão na sala,e dormi...
Senti uma mão me sacudindo...abri os olhos e estava tudo escuro.
-Vem aqui... - a Beatriz sussurrava
Olhei para o quarto dela; Estava com uma vela acesa
Nós entramos e ela apontou para a cama dela,enquanto trancava a porta.
Naquela hora,tudo ficou evidente, mas não parecia real...
-Gostou do presente que meu pai te deu? - ela se aproximava com um sorriso no rosto
-M...muito...
-Chegou a hora do meu presente pra você... - ela começou à tirar a blusa...
E então começou a me beijar,deitando-se sobre mim...
-Já fez isso antes?
-Nunca - o nervosismo estava evidente em minha voz
-Eu também...nunca...
Aquela foi a melhor noite da minha vida...

Bom...acho que estou com muito sono para continuar...amanhã eu termino isto...

10 de setembro de 2011

Diário - 26º Registro...

Caramba...a cidade está um caos,com algumas áreas com multidões de infectados,e outras,são áreas vazias...mortas.
Meu bairro virou cinzas,e ainda há alguns focos de incêndio.
Assim que chegamos no heliporto em cima do hospital,muitos infectados começaram a subir,e nem deu tempo de descermos,de modo que tivemos que levantar voo.
Uns 5 minutos mais tarde,abriram uma das portas do helicóptero e abriram fogo contra todos os infectados em cima do hospital.
Depois,descemos de novo,e dessa vez,conseguimos entrar.
Depois de descermos alguns lances de escada,os tiros começaram.
O problema,é que o estoque de remédios fica no subsolo e o hospital tem mais de 10 andares...
Paramos no 8º andar,pois haviam muitos infectados no caminho e entramos numa sala com porta de ferro...
O estranho,é que estamos no arquivo...um arquivo com porta de ferro.
Olharam todo o local,e mataram 4 infectados que estavam aqui dentro...
Só vamos sair de manhã...
Isso aqui é o inferno,dá pra escutar cada gemido angustiado de um infectado...de vez em quando,gritam alto,e juro que até ouvi um choro.
Até alguns soldados ficam assustados com os barulhos às vezes.
Isso aqui parece um hospício macabro.
E tenho certeza de que a noite vai ser longa...

9 de setembro de 2011

25º Registro - Amanhã...

Pronto.Vai ser amanhã.
O Marcelo já entregou relatórios pra todos que vão fazer parte da missão...inclusive eu.
O que me preocupa,não é o fato de simplesmente saírmos...acontece que,o tenente resolveu não nos mandar para alguma área segura,e sim,para um hospital...
Nesse caso,vamos justamente para o Hospital São Matheus.Onde tudo começou.

Um grupo de 25 pessoas,contando comigo,vai sair daqui de manhã,num helicóptero imenso,e lá vamos nós atravessando toda esta merda de novo...
Já ganhei uma mochila grande,que vou usar para guardar os medicamentos.

Percebi que daqui a uma semana,farei 15 anos.Duvido que eu fique vivo até lá.
Minha vida quase voltou à normalidade,mas no fundo,sei que minha família,está morta,junto com 99,9% do mundo.
Enquanto isso,a Ana Paula está sendo voluntária para a distribuição de alimentos aqui.

Tenho que dormir...ficar com sono no meio do que vai acontecer amanhã não seria bom...
Quero ver como ficou a zona leste depois de tudo...

1 de setembro de 2011

24º Registro...

Se passaram 5 dias desde que atualizei este blog da última vez.
Não tive tempo,pois todo dia falo com o responsável por esta área segura.
Parece que,por eu e Ana Paula sermos os únicos sobreviventes a chegarmos aqui depois da queda da sociedade,somos "experientes".Um moleque de 14 anos que chorou muitas vezes,e só matou uma infectada é considerado experiente aqui.O pior é que,por ter toda essa "experiência",serei enviado em uma missão,com um monte de soldados...
Acontece que aqui,está acabando o suprimento de remédios.Uma gripe forte pode significar morte.Idosos que adoecem só esperam a hora deles chegar...
É triste,mas é a realidade.

O Tenente Marcelo planeja nos enviar para outra área segura aqui em São Paulo,mas não sabe qual,pois existem duas que eram anexadas a hospitais.
Deus me ajude,quando eu sair daqui...

Aqui na área segura,todos me olham espantados,como se eu fosse alguém que sobreviveu por habilidade...a verdade é que se não fosse o Carlos,nem sei o que seria de mim e da Ana Paula agora...

O cara do outro blog não atualiza há dias,e não consegui responder o e-mail dele.
Espero que não tenha morrido...


Assim que eu tiver que ir pra essa missão,escrevo aqui.
E depois,todo o inferno recomeça...