É incrível como tudo pode ir para a merda em questão de horas...no mundo de hoje,uma vida não vale nada(a menos que essa vida seja a sua).
Fazem umas 7 ou 8 semanas que aconteceu,em meados de abril...parecia que tudo ficava pior a cada dia,mas, com exceção da falta de comida,era o lugar mais seguro em quilômetros...mesmo assim,tudo foi pro caralho.
Acho que a sensação de segurança baixou a guarda de todos nós.
Dois dias antes do que aconteceu,Matheus e eu saímos para buscar alimentos,e cometemos o maior erro.
Com as constantes saídas do prédio,muitos infectados se aglomeraram na região,e naquele caso,esquecer o portão destrancado foi imperdoável.
Quando voltamos,o pátio estava cheio de infectados.Fiquei sem reação na hora.
Matheus acelerou,atropelando três deles,e o vidro estilhaçou;Ele perdeu o controle do carro e bateu em outro.
Eu saí do carro e corri em direção à entrada do edifício,enquanto o Matheus fazia o mesmo,mas no meio do caminho,um homem com uma ferida enorme na maçã do rosto esbarrou em mim,e eu quase caí no chão,dando tempo suficiente pra ele conseguir agarrar meu braço esquerdo.
Ele batia os dentes furiosamente enquanto eu empurrava o queixo dele.Foi quando Matheus encostou a arma na têmpora dele e puxou o gatilho.
Eu fiquei surdo por um instante e só pude contemplar o corpo do infectado caindo,com um buraco do tamanho de uma mão fechada na lateral da cabeça.
Era só questão de tempo para todos os infectados da região estarem nos caçando.
Quando chegamos no apartamento,já começamos a montar uma barreira na porta,com os sofás,o rack,a geladeira,e tudo o que pudemos encontrar.
A Beatriz e a Cláudia nos ajudaram e depois,ficamos apenas esperando eles chegarem.Os malditos parecem sentir a presença de um humano,já que em dentro de 5 minutos,ouviu-se a primeira pancada na porta.
Em poucos minutos,tornou-se um som constante de pancadas e gritos.
Começou a escurecer, e a porta estava quase cedendo. Eu tinha certeza de que não sairia daquele apartamento vivo.
De repente,ouvimos o som seco de madeira quebrando.
-Vocês...se escondam rápido! - Matheus gritou,enquanto mirava para a porta.
Eu corri para o quarto do casal,mas não achei a chave e só fechei a porta e procurei um lugar em que eu pudesse ficar por um bom tempo,e entrei no guarda-roupas.
Fiquei encolhido enquanto tentava controlar minha respiração,que mais parecia um soluço.
Escutei o primeiro tiro.Ele haviam entrado.
Foram uns 11 ou 12 tiros seguidos,e depois,pararam.
Alguns segundos depois,mais barulho de pancadas.Pensei ser na porta do quarto em que eu estava,mas depois percebi que não era.
-Me deixa entrar! - Era ele...provavelmente tentando entrar onde a Cláudia e a Beatriz estavam.
Depois muita gritaria...e logo o silêncio,às vezes com algum gemido de um infectado.
Fiquei assim,encolhido no escuro por um dia inteiro,até que,depois que percebi que não havia mais sinais de algum infectado.
Me estiquei com esforço,e quando tentei ficar de pé,perdi as forças e caí.
As mais de 24 horas sem comer nem me esticar me deixaram no chão por alguns segundos...
Quando consegui levantar,saí do quarto e vi toda a merda que aconteceu.
Atravessei a sala de estar e lá estava o Matheus,caído e com as costas destroçadas,a porta entreaberta,e muito sangue no local; E então,fui olhar o quarto onde estavam Beatriz e Cláudia.
Vazio.
O quarto estava todo revirado,com manchas de sangue no chão...elas tinham sido infectadas.
Quando voltei à sala,dei conta do que havia acontecido.
Olhei para o Matheus,que estava caído,e vi que ele também havia sido infectado,e só não tinha levantado porque sua coluna estava destruída. E ele não emitia som algum,só batia os dentes; Estranhei no começo mas depois descobri que era por causa dos pulmões,despedaçados.
Fiquei imóvel por alguns segundos...tentando processar tudo aquilo.
Por mais uma vez,eu estava sozinho.Sozinho e ferrado.
E então eu tomei coragem,peguei minha mochila,coloquei toda a comida e duas garrafas de água nela,peguei a arma da mão do Matheus e saí do apartamento.
O prédio estava vazio,e o pátio tinha 3 infectados.
Então corri para o Civic ainda com as portas abertas e entrei. A chave estava no contato.
Por sorte, ele não tinha se danificado na batida,e consegui ligá-lo na 2ª tentativa.
Fiquei um pouco confuso no começo,mas pus em prática o que tinha aprendido com meu pai,antes de tudo isso.Engatei a marcha a ré, e saí para a rua, e então arranquei pela avenida.
Estava sem rumo, assustado.
O párabrisas estava estilhaçado,mas eu conseguia enxergar parcialmente.
E as ruas estavam relativamente vazias.
O que me ajudou a atravessar o bairro sem atrair muita atenção foi a velocidade do carro e o motor silencioso.
Depois de alguns minutos rodando pela região,parei numa rua com algumas casas e lojas pequenas,incluindo um mercadinho,e parei na frente de uma casa com um muro alto e o portão aberto,mas intacto.
A casa estava vazia e sem sinais de luta, tudo em ordem.
Decidi que aquela seria minha casa até as coisas melhorarem...estacionei o carro na frente do portão,dificultando a passagem de algum infectado,e então fechei o portão e entrei na casa.
Sentei no sofá,e fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido.
Em menos de 3 dias,tudo tinha dado errado.
Então uma olhada mais atenta na casa.Era uma casa simples,mas bem arrumada.
Tinha dois quartos,um de casal e outro,com uma cama de solteiro,onde eu dormi.
Desde então,estou explorando a região,que não tem muitos infectados...sobrevivo da comida que pego no mercadinho e da água da casa,da caixa d'água ainda cheia.
Encontrei também uma loja de ferragens,e consegui um machadinho,de uns 50cm,que juntei com a pistola e as facas da casa.
Eu ficaria aqui até a comida acabar,ou acontecer algo pior,mas já fazem 3 dias que escuto tiros e vejo uma coluna de fumaça se erguendo há uns 2 a 4 quilômetros daqui, vou investigar isto.
Se tiver alguma chance para encontrar outras pessoas,não posso perdê-la.
Hoje também olhei o relógio que Matheus tinha me dado,e vi que é dia 8 de junho,e faltam 4 dias para completar 1 ano desde meu primeiro registro sobre tudo isso.
Esse foi um dos motivos para escrever nesse caderno depois de mais de 7 meses.
Agora preciso dormir,porque de manhã,vou estar saindo daqui e descobrir o que está acontecendo.
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